O NAVIO QUE PARTIU AO MEIO

“Foi possível ouvir o som da ruptura a quilômetros do local”

Ei! Deixa eu te contar…

1963 … faz um tempo, e é lógico que qualquer pessoa que tenha vivenciado o ocorrido, e possa relatar o acontecimento, teria uma idade avançada. Eu encontrei essa pessoa. Estava no processo de combinar quando e onde aconteceria a entrevista, mas recebi a notícia de que ele havia sofrido um AVC.

Devido a esse acontecimento, essa conversa terá que ser adiada, mas não vou deixar que vocês esperem curiosos por esse relato a respeito do Siderúrgica Oito.

SIDERÚRGICA OITO

No dia 18 de abril de 1968 o navio, carregado com 7.200 toneladas de carvão, partiu do Porto de Imbituba com destino ao Espírito Santo. Na partida, a cerca de três quilômetro e meio de distância do porto, a grande embarcação encalhou em um banco de areia formado após fortes ressacas.

A Corveta da Marinha de Guerra foi acionada com o intuito de desencalhar o navio, porém, o esforço foi inútil. Em 19 de abril, no dia seguinte, o capitão entrou em contato com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e recebeu orientações para que a carga fosse jogada no mar, o objetivo era deixar a embarcação mais leve.

Com o peso a menos e o auxílio da corveta, o navio, finalmente, voltou a se mover. Mas, na noite do mesmo dia, devido aos fortes ventos, ele foi arrastado em direção às rochas do Costão da Ribanceira. Àquela altura, o barco não poderia mais ser salvo, mas a tripulação ainda estava a bordo.

RESGATE

Página Facebook - Memórias de Imbituba

Por volta das 19 horas, ainda no dia 19, os meios de comunicação da cidade foram acionados e todos começaram a pedir aos moradores que fossem com seus carros até a praia. Naquele dia algo interessante aconteceu.

A praia foi tomada por diversos veículos com os faróis acesos e apontados para o mar. O objetivo era direcionar os faróis para a embarcação, que se encontrava totalmente no escuro, e permitir que o comandante pudesse visualizar a distância da praia.

Às 21 horas, haviam centenas de veículos iluminando a embarcação. O navio havia encalhado nas rochas, o resgate da tripulação seria realizado quando o dia clareasse. No entanto, por volta das 5 horas da madrugada do dia 20 de abril, um forte estouro pode ser ouvido em toda a cidade.

"Foi possível ouvir o som da ruptura a quilômetros do local”  
O navio havia se partido ao meio e a popa (traseira do navio) foi separada da proa (frente do navio).

O Padre Itamar Luiz da Costa, um dos grandes nomes da história de Imbituba, reuniu um grupo para realizar o resgate. Uma equipe de enfermeiras, dois médicos, moças carregando toalhas, remédios e muitos homens participaram da operação.

Curiosidade: O padre Itamar Luiz da Costa foi idealizador do Hospital São Camilo e um dos fundadores da Rádio Difusora de Imbituba entre outros feitos. Era uma pessoa querida pela população da época.

Curiosidade: O padre Itamar Luiz da Costa foi idealizador do Hospital São Camilo e um dos fundadores da Rádio Difusora de Imbituba entre outros feitos. Era uma pessoa querida pela população da época.

Moradores que tinham barcos colocaram as embarcações na água, enfrentando fortes ondas, e ajudaram no resgate. Um cabo de aço foi esticado entre as rochas e o navio, por onde os marinheiros desceram e receberam os primeiros socorros.

Naquele dia apenas um homem perdeu a vida, um jovem que caiu na água enquanto tentava a travessia pelo cabo de aço. O último a ser resgatado foi o capitão Aldemar José da Silva que deixou o navio apenas depois que sua equipe estava a salvo.

Segundo os relatos, ele chorava de alegria, estava ferido e exausto. O capitão acabou desmaiando e ficou em estado de semicoma. Ele foi o primeiro doente a ser internado no Hospital São Camilo de Imbituba.

O navio partido foi jogado contra as rochas e se perdeu completamente com o tempo.

Essas foram as informações que consegui a partir do Livro “Imbituba” do escritor imbitubense Manoel Martins e no Blog NavalUnivali que traz relatos de outros navios naufragados na região.

Sigo em busca de novas fontes por curiosidade e necessidade de compartilhar aquilo que me empolga com você. No entanto, por hora, deixo aqui um pedido: Ore pelo pescador cujas lembranças trazem relatos históricos do Siderúrgica Oito, não por causa das lembranças, mas pela vida que está em dificuldade.

Querer o bem nos faz bem também.

Até breve tripulante!